Relacionamentos perfeitamente imperfeitos (parte ii)

Enquanto crianças é natural querer alguém que cuide de nós. A natureza é mesmo assim. Podem chamar-lhe instinto de sobrevivência ou necessidade natural, o certo é que enquanto crescemos procuramos quem cuide nós. Regra geral chamamos-lhes pai e mãe. Ou Maria e Francisco. Ou Bruxa Má e Ditador. Independentemente do rótulo atribuído, a necessidade de apoio, segurança, comida, é natural.
O mesmo não se pode dizer de um adulto.
Um relacionamento íntimo saudável entre dois adultos só pode funcionar quando ambos reconhecem o outro como igual. Ambos têm desejos, frustrações, hesitações, receios, forças, trabalho.
Mas, como muitos de nós esquecemos de largar a necessidade da infância de apoio e segurança, começamos a ver o parceiro como o provedor destas necessidades.
Inicialmente até pode ser delicioso cuidar do outro. Eventualmente torna-se um peso bastante pesado.
Esperamos que o outro cuide das nossas necessidades (ou é esperado de nós cuidar do outro), e quando o não faz, nós fazemos birra. Em criança, a birra era vista como desagradável pelos adultos. Então, em vez de espernearmos no chão e desatar aos berros, optamos pelo tratamento silencioso (aka “amuo”). Fechamo-nos e ficamos à espera que o outro descubra onde está a falhar. Ou, optamos pela agressividade mais activa, gritando, questionando, insultando.
Um adulto mentalmente são não se relaciona intimamente com uma criança. É crime e estamos naturalmente programados para sentir repulsa. Mas se o adulto que está connosco necessita de cuidados constantes, de estar sempre informado acerca das nossas andanças, de saber porque motivo estamos tristes ou alegres, a relação deixa de ser entre dois adultos e passa a ser entre um adulto e uma criança num corpo de adulto. Na pior das hipóteses a relação passa a ser entre duas crianças em corpos de adulto. Não funciona.
Para melhor criar uma relação saudável entre dois adultos verifica primeiro o que queres da outra pessoa. Faz uma lista. De seguida experimenta dar-te a ti tudo o que tens na lista. Vai mais longe ainda e tenta dar isso mesmo ao outro. Sei que não será fácil. Mas começarás a compreender porque motivo a relação estagna ou surge o distanciamento.
No próximo seminário “Relacionamentos (im)perfeitos” iremos individualmente mergulhar nas nossas necessidades individuais, iremos aprender a ouvir e processar o que é dito e, sobretudo, aprender a amar a criança que há em nós sabendo que as suas necessidades são continuamente preenchidas.

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