Respeitinho, se faz favor

Ouço com frequência pessoas da minha idade e mais velhas queixarem-se que hoje em dia já não há respeito.
As pessoas que se queixam desta falta de respeito não param para observar se alguma vez houve respeito. Quando éramos adolescentes, se pararmos o tempo suficiente, descobriremos que nós também não tínhamos qualquer respeito pelos outros. Tínhamos outra coisa: medo ou resignação.
Não é possível falar de respeito quando nós mesmos não temos a experiência de nos respeitarmos. Acreditamos que o respeito é algo que se impõe ou se merece. E não é uma coisa nem outra. O respeito só pode ser experienciado a partir de dentro.

Algumas das formas de desrespeito que não consideramos:
-       O amigo que pede ajuda e nós ajudamos, não porque é natural em nós ajudar mas porque acreditamos que é o que um amigo é suposto fazer (o chamado “frete”);
-       O corpo adoece e nós tratamo-lo como estando errado ou a fazer algo que não gostamos (expressões inocentes como “as malditas das dores nas costas”);
-       Dedicarmo-nos à má-língua mesmo sabendo que nos sentimos mal ao fazê-lo;
-       Acusar os outros por fazerem aquilo que nós mesmos fazemos;
-       Fazermo-nos passar por vítimas para não ter que lidar com situações que nos são desagradáveis;
-       Culpar outros por tudo o que percepcionamos como errado nas nossas vidas;
-       Deitarmo-nos abaixo quando a vida não acontece como nós queremos.

Se para mim o respeito é um valor importante (e é), então será mais fácil começar esta história por mim.

Quando alguém opina, eu respeito a opinião mesmo que a minha experiência seja diferente. Uma amiga dizia-me que as mulheres sempre sofreram porque vivemos numa sociedade patriarcal. Respeito a opinião dela. A minha experiência é diferente (lá em casa era a mãe que mandava). Um cliente diz-me que os políticos são todos uns vigaristas. Respeito a opinião dele (este é um homem que esconde uma parte da fortuna para que a ex-mulher não lhe “leve tudo”). Um professor diz-me que os miúdos são cada vez mais mal-educados. Compreendo a sua opinião (ele não se dá conta que é má educação marcar uma sessão e desmarcar em cima da hora porque surgiu algo mais interessante ou está-se cansado). Um pai informa-me que os professores hoje em dia não prestam. Compreendo a sua opinião (este homem chega a passar um mês sem ver os três filhos de duas ex-mulheres).

Queres respeito? Começa por te respeitar a ti mesmo antes de exigir que outros o façam. Por exemplo, eu tenho um problema com pessoas que precisam de gritar quando comunicam com outros. É ok estas pessoas gritarem. E eu afasto-me. Respeito a necessidade do outro gritar e respeito a minha necessidade de calma. Há pessoas que se sentem bem a queixar-se acerca de tudo aquilo que nada podem fazer para mudar (a crueldade contra animais, a fome no mundo, os políticos corruptos), eu respeito a necessidade destas pessoas de se queixarem, e respeito a minha natureza que é de me afastar de queixas que levam a nenhures. Há pessoas que para se sentirem bem têm a necessidade de deitar abaixo os outros. Respeito esta qualidade e respeito a repulsa que sinto deste comportamento, mudando a conversa ou afastando-me.

Posso verificar que tenho poucos amigos. Talvez porque aqueles que tenho são merecedores do meu respeito. Respeito-os apenas na medida em que me respeito a mim. E em momento algum acredito que alguém me falte ao respeito. Não tenho que ser ditador nem exigir que os outros se comportem como eu quero. E se em algum momento observar que alguém me falta ao respeito, antes de acusar retiro-me para descobrir onde é que ainda me falto ao respeito.

Por vezes há pessoas que acreditam que eu concordo com elas nas suas teorias. Em realidade acredito em apenas duas ou três coisas nesta vida. Não acredito no que me dizem, e respeito a perspectiva de cada ser humano. É a sua perspectiva, merece tanto respeito como a minha.

Acontece-me com frequência ouvir pessoas perguntar-me se deveriam fazer este trabalho que chamo de educação emocional. A minha resposta só pode ser um não. E não explico de onde vem este “não”. Eu posso fazer um trabalho de educação emocional porque sinto um desejo de o fazer, ou posso fazê-lo porque me convenceram que será melhor para mim. E a minha função não é, definitivamente, convencer quem quer que seja do que quer que seja.

Cada ser humano neste planeta está a viver de acordo com aquilo que acredita. E eu respeito as crenças de cada um. A minha experiência pode ser diferente da tua. Apenas isso. No fundo somos muito parecidos em tudo. Ambos respiramos, mexemo-nos de A a B, bebemos, dormimos, comemos, vestimo-nos. Tudo o mais são histórias.
A vida é simples quando te respeito e me respeito. Quem tu respeitas não me diz respeito.

PS - Para os mais curiosos: em que acredito eu? Apenas naquilo que está a acontecer aqui e agora. Factos sem interpretações. Se por exemplo tu fizeres parte do meu Aqui e Agora e estiveres a gritar, acredito a cem por cento que a tua função é gritar (só assim este momento pode ser completo). Não é minha função impedir-te de gritar. E observo como estas pernas se movimentam numa outra direcção. Poderia a vida ser mais deliciosa?

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